Graveola e o amor às revoluções

Mineiros do Graveola e o Lixo Polifônico começam turnê de seu novo disco, "Eu Preciso de Um Liquidificador" em SP. Leia entrevista com o grupo

POR KATIA ABREU
publicado em 26.03.2012 15:32  | última atualização 02.04.2012 17:19

Graveola e o Lixo Polifônico POR Flávia Mafra / Divulgação

Seria fácil – e preguiçoso – dizer que o Graveola e o Lixo Polifônico é uma banda “inclassificável”. O sexteto formado por Luiz Gabriel Lopes (voz e guitarra), José Luís Braga (voz e violão), Bruno de Oliveira (baixo), Flora Lopes (percussão), Juliana Perdigão (clarinete e voz) e Yuri Vellasco (bateria) reverencia tantos estilos em sua obra que seria impreciso fazer uma listagem de referências para situar o leitor. Basta ouvir, com um pouco de atenção, os três álbuns do grupo para pescar citações e colagens que formam um verdadeiro panteão da história da música popular brasileira.

Mas também seria equivocado considerá-los revivalistas ou herdeiros de qualquer movimento, linhagem ou cânone que lhes serve de inspiração. O mergulho na memória é apenas ponto de partida para a busca de uma identidade singular que, mais do que MPB hippie, indie universitário ou qualquer outro rótulo que já tenham colado a eles, é popular. E não merecem este título apenas pelas melodias cantaroláveis ou pelo sucesso de público em sua terra natal, Belo Horizonte, mas por estarem ligados a articulações e manifestações por uma sociedade mais justa, saudável e amorosa, tomando espaços que são de todos.

Em janeiro, eles ocuparam o suntuoso Palácio das Artes ao lado de 1700 fãs que lotaram a sala para participar da gravação do primeiro DVD da banda. Uma apresentação emocionante, que teve coro sussurrado da plateia em baladas como “Pra Parar de Vez”, dança no meio das poltronas no hit “Insensatez: A Mulher que Fez” e invasão do palco em “Babulina’s Trip”, hino da juventude progressista belorizontina.



Antes disso, em novembro de 2011, lançaram seu terceiro disco, Eu Preciso de um Liquidificador (baixe aqui o disco), com um show na comunidade Dandara – que rendeu uma discussão interessante sobre política e arte e a necessidade de avanço nestes conceitos. Nesta conversa franca com Luiz Gabriel (com participações especiais de Yuri e da produtora Jana Macruz), falamos de mobilização jovem, do oportunismo do poder público e da nostalgia pelos anos 60 e 70 que parece aprisionar a nova geração de músicos brasileiros.

Como foi fazer o lançamento do disco na comunidade Dandara?

Luiz Gabriel . Foi um maremoto de idas e vindas com lance de autorização e alvará para fazer o show. A gente começou o processo com mais de um mês de antecedência. E só foi conseguir o alvará definitivo no dia do show, um domingo, às três horas da tarde. Tem até um vídeo do Rafa lendo a liminar no meio do show... Teve uma mobilização muito grande do poder público de Belo Horizonte para impedir a realização do show, sob o argumento da situação ilegal da ocupação, que é gato na energia e que não sei o que. Mas, na verdade, era uma represália política, de caráter totalmente elitista – que é a representação da administração pública da cidade hoje.



E vocês escolherem fazer o show de lançamento lá foi uma decisão política...

LG . Teve um cunho totalmente político, de fortalecer o trabalho das , que é uma galera com quem a gente já tinha contato e compartilha ideias. O Dandara é um dos trabalhos que eles têm, dando suporte político e jurídico para a comunidade. E nesse show, apesar de ele ter sido amplamente boicotado (tanto pelo poder público quanto pela imprensa daqui), aconteceu uma coisa engraçada: se tornou uma espécie de palco para disputas políticas. O vice-prefeito, Roberto de Carvalho, que é um cara muito duvidoso também, mas rachou com o prefeito Márcio Lacerda, foi no show. Quer dizer, o cara foi no show para bancar de “estou com a juventude”. E teve vários vereadores que apareceram... Vira um caldeirão de oportunismo esse tipo de situação, né?

E o show, como foi? Três mil pessoas, né?

LG . Foi maravilhoso, foi histórico. Um dos shows mais importantes do Graveola. A gente contabilizou tipo isso, umas três mil pessoas, entre público da comunidade e gente que foi até lá.


"O espectro de atuação política de um artista é muito maior do que o de uma obra em si mesma. É aí que o Graveola tenta atuar."

A galera da comunidade já conhecia a banda?

LG . Durante o processo de articulação e organização, houve um envolvimento grande de uma parte da comunidade. E nesse sentido, a galera foi se aproximando. Nem sei se tanto pelo ponto de vista musical, mas a galera se envolveu muito com a banda, porque a gente comprou a briga de fazer uma festa lá, de levar público da zona sul e das outras regiões da cidade para conhecer a ocupação.

Jana Macruz  . Teve retorno de lideranças locais falando: “cês não sabem a importância desse show, o tanto que mexeu com a comunidade...”

LG . Total, de autoestima mesmo da galera. Inclusive a gente recebeu retornos muito deselegantes, escrotos mesmo, de parte da imprensa falando assim: “mas esse show é numa favela... o público da minha rádio não vai querer ir a show numa favela”. Tem que tirar esse caráter. Ali é uma ocupação, com uma organização sólida. Tem reuniões toda semana, duas reuniões. É um nível de democracia participativa que a gente, que está representado por vereadores, assembleia legislativa, não experimenta.



Eles se envolveram na produção do show, trabalharam com vocês?

JM . Total. Preparam um camarim especial...

LG . Toda a estrutura de bar foram eles que produziram.

JM . Limpeza também. Tem uma assistente social que trabalha lá com eles, que a hora que viu o camarim ficou emocionada... Foi muito legal.

Isso é muito legal, porque sai um pouco daquela ideia de quando um grupo ou uma empresa quer levar “cultura para um lugar onde não tem”. Mas aí, não envolve as pessoas, faz um show de graça e acha que é isso... É muito interessante ver que esse arranjo que vocês fizeram com eles não foi só de ir lá fazer um show.

LG . A condição deles é realmente instável. É uma área que está nessa confusão de não conseguir ter garantia da legitimidade. Tem quase três anos que eles estão lá, mas sempre sob ameaça de despejo. Várias vezes teve polícia, teve conflito. E por isso não seria possível chegar lá e ter uma coisa asséptica, institucional. A própria comunidade não absorveria isso. A realização do show só foi possível porque houve essa sinergia com eles.



E a aceitação do som foi surpreendente para vocês?

LG . Certamente. O Graveola a gente não tinha muita ideia de como seria, mas a gente teve a preocupação de colocar duas bandas, o Julgamento, na abertura, e a , para encerrar, que comunicariam com a galera – além de um DJ local. E foi o que realmente aconteceu: o Julgamento, com o hip hop, e a Pequena Morte, que é uma parada irresistível, de mexer com o corpo mesmo.

E o contrário, o público de vocês lá?

JM . A galera chegava lá e primeiro ia dar uma volta para conhecer o lugar inteiro, que é muito grande, e depois voltava pro local do show.

LG . Imaginava que ia ter um público da banda, mas não imaginava tudo isso, essa disposição. A gente disponibilizou ônibus, porque era longe, e muita gente não conhecia, e teve que fazer viagem extra. Fiquei surpreso com isso, porque, querendo ou não, é um público mais classe média. As pessoas chegaram lá através do Graveola. O Grave, de uns tempos pra cá, por conta da militância política, têm pensado muito no potencial de mobilização que um grupo tem para levar pessoas até um lugar ou para soltar um post na internet e ter retorno daquilo. É um potencial interessante de utilizar para colocar em debate inúmeras questões. Não significa que o Graveola tem que fazer música falando da situação política da cidade...



Mas vocês fazem... “Babulina’s Trip” é isso.

LG . É, a gente faz. Mas de outra maneira, não de uma forma “estandartizada”, naquela ideia da música de protesto, da música de cunho político como é o trampo do Julgamento, por exemplo, que é um viés de crítica social mais forte. E a postura não é simplesmente na arte. O espectro de atuação política de um artista é muito maior do que o de uma obra em si mesma. É aí que o Graveola tenta atuar. Legitimando e divulgando a Praia da Estação, o Movimento Fora Lacerda, estando presente nas conexões aqui de Belo Horizonte, que é o lugar onde a gente vive. É aí que a gente consegue realmente utilizar o potencial de mobilização em favor de algum tipo de conscientização. Gente mais nova, que estava por fora do que estava acontecendo ali, chegou lá e descobriu que existe uma comunidade de duas mil pessoas vivendo sob ameaça de despejo de um governo que não quer dialogar. Uma galera de Ensino Médio mesmo que fica sabendo de debates políticos da cidade pelo Grave.

Mas quando falo que vocês fazem música política não é (só) nesse sentido de música de protesto. Claro que “Babulina’s Trip” é onde isso fica mais claro, porque ela é um grande comentário político sobre Belo Horizonte hoje. Mas “Blues Via Satélite” é uma crítica à forma desumana como a gente está se relacionando e não deixa de ser um comentário político também.

LG .  A política é uma dimensão que está em todas as outras. Falar de amor de uma forma atual é político. Falar das relações humanas, falar da cidade... Eu concordo com isso. É por aí que a gente tenta pensar mesmo. A questão do teor político não precisa ser formatada de uma maneira que é superficialmente mais reconhecível, da crítica direta. A gente busca uma coisa mais complexa mesmo. É político até misturar heavy metal com salsa e pagode.



É político fazer as colagens que vocês fazem...

LG . É propositivo, na verdade. Sem dúvida. É depositar crença num outro modelo, na possibilidade de uma renovação do conceito de política.

E a arte é um vetor para isso. Você enxerga dessa forma, não só no Graveola?

LG . Isso é uma coisa que aqui em Belo Horizonte está muito latente. Todas as bandas da cena independente da cidade estão envolvidas com o Carnaval de rua. E é político isso, a presença dessa cena. Não precisa se prender a uma fórmula de defender certas posturas. Eu penso muito nisso, para falar de política, mas também em relação à canção. Não é possível mais a gente usar o mesmo vocabulário, as mesmas fontes... “Babulina’s Trip”, por exemplo, é uma música que avança um passo em algumas coisas, mas para mim ela tem uma série de problemas. É uma música cheia de excessos, até pelas proposições da letra. Mas é isso mesmo, tem que dar a cara à tapa. Tem determinados momentos que para refinar esses avanços, tem que se expor um pouco. Não é possível a gente fazer como se fazia nos anos 70. Mas, ao mesmo tempo, a gente não conseguiu quebrar a casca do ovo da mesma forma que o Caetano quebrou quando ele falou: “eu tomo uma coca-cola / ela pensa em casamento”. Esse salto de vocabulário está sendo operado pela geração de hoje, mas ele não atingiu uma forma ainda... Talvez as formas onde se atingiu isso com mais organicidade estão no hip hop.

Você concorda com o Chico Buarque, então?

LG . Concordo um pouco no sentido de que no hip hop a discussão sobre a realidade não saiu de foco. O Graveola mesmo a gente sofre um pouco com isso. Muitas vezes, comentam: “toma cuidado, esse negócio de vocês ficarem com postura política demais incomoda”. Se tornou meio feio, de certa forma, você ter uma postura. E o que é isso? É um sintoma dessa falta de se submeter ao risco - que é uma característica da nossa época. É cada vez mais difícil apontar para um caminho e se submeter ao risco que esse caminho estabelece. Veja “Babulina’s” mesmo: eu sou o compositor da música e eu, na verdade, tenho quase vergonha dela em alguns momentos.

"Ainda existe uma nostalgia de escrita, de forma de ver as coisas... Às vezes também é muito difícil achar o tom das coisas, sem soar moderninho demais."

Por quê?

LG .  Porque eu vejo os limites dela, eu vejo onde ela erra nos meus critérios. Mas naquele momento, ela era necessária. Ela foi necessária e ela ainda é necessária. No repertório do Graveola mesmo, ela estabelece um corte até musical. Ela é ultrassimples do ponto de vista musical, que é uma coisa que poderia causar um desconforto, um mal estar. Mas o outro lado, que é onde ela vai além, a banda entendeu que valeria a pena. É um grande desafio que está em curso. A gente está vendo várias tentativas dessa atualização de vocabulário.

Vocabulário musical, inclusive?

LG . Músical inclusive, mas é um complexo. É na música, mas acho que é principalmente na letra. A gente não deu esse salto ainda. Ainda existe uma nostalgia de escrita, de forma de ver as coisas... Às vezes também é muito difícil achar o tom das coisas, sem soar moderninho demais. Fico vendo coisas que às vezes forçam a barra... O que estou dizendo de “Babulina’s” é isso, eu acho que ela força um pouco. Como muita coisa, que tenta propor de um lado, e força um pouquinho. Mas qual que é esse limite? Não é possível, e nem é digno, parar aonde a coisa já assentou um lugar na música popular brasileira.

Quando você fala em nostalgia, você está falando dos anos 60 e 70, principalmente?

LG . Principalmente. Acho que ainda é o pilar onde toda a música popular brasileira se sustenta.

Acho que nesses últimos 10 anos, essas referências se tornaram muito mais fortes. Teve um período em que jovem não gostava de MPB. Uma geração que não cresceu com a referência de que MPB era música jovem.

LG . Se bem que no caso do Graveola isso é muito variado na bagagem de cada um. Eu ouvia Legião pra caralho, altos rocks anos 80 por causa da minha mãe. Mas o Yuri e o Zé Luis vieram de outra linhagem, mais da MPB mesmo...

"Eu acho isso um negócio muito triste e muito imaturo de crítica e público no Brasil que é o bom e velho 'fez sucesso é ruim'"

Yuri Vellasco . Meu pai e a minha mãe viveram anos 80 total...

LG . Mas o que de anos 80?

YV . Kid Abelha, Lobão...

LG . É mesmo?

YV . Uai, no Bar do Lulu só dava isso. Barão... meu pai era fã.

LG . Isso é uma revelação! Eu não sabia disso... Mas na verdade, é uma pecha que jogaram no Graveola durante muito tempo, de que era uma banda de MPB. De estudante hippie tocando MPB. E no primeiro disco isso tem um pouco de verdade mesmo. Porque é mais violão, os arranjos são menos de banda, tem uma dicção mais mpbística.

Mas o Um e Meio é um disco mais esquisito...

LG . É, o Um e Meio é um borrão...

YV . Mas isso de que de uns 10 anos para cá, essa coisa da Tropicália e da MPB dos anos 60, voltou como influência para a produção musical, eu concordo...



Digo por mim mesma. Foi nesse período que eu comecei a descobrir as coisas dessa época, muito por influência de amigos músicos. E concordo que a sintaxe daquela época está pautando a produção artística atual de muitas formas e até, em alguns casos, forçando a barra, como você falou. Virou modinha ser tropicalista. A galera foi atrás disso e ainda está confuso o que a gente vai fazer com essas referências.

LG . É, se pegar o próprio movimento de como esses grandes nomes dos anos 60 e 70 caminharam para o momento de hoje é muito sintomático. Você vê a guinada que o Caetano deu na carreira dele, atingindo um público totalmente diferente, jovem. Eu fui no show do , aqui em Belo Horizonte, no Chevrolet Hall, não estava muito cheio, não era aquele esquema “ah, o show do Caetano Veloso”, como seria no Palácio das Artes ou como é o do Chico até hoje, e era uma galera muito nova. Eu acho muito sintomático...

YV . Há 10 anos, o que rolava era muito Strokes, Franz Ferndinand... E nessa época, o Caetano ainda tava naquele esquema orquestra. Daí, vem esse show do , mais rock’n’roll... Só que no meio disso tudo, o cara tava cantando o “Trem das Cores”.

LG . O próprio cara fez essa ponte...

E o Los Hermanos, não fez essa ponte?

LG . Acho que o Los Hermanos, talvez, tenha sido a banda dos anos 90, ou até dos anos 80, pra cá, que pela primeira vez de uma maneira bem sucedida fez essa junção. Mas é engraçado você ver a lacuna que eles deixaram. Por mais que esse o filão tenha sido preenchido por várias outras bandas – e até o Grave se vale disso, de certa forma – não teve ainda outra banda que tenha conseguido fazer isso de forma bem sucedida em termos de público mesmo, comercialmente.

Vocês não se incomodam quando alguém compara vocês a eles?

LG . Não. É uma referência inevitável.



Parece que eles abriram uma porteira, mostraram que existia essa possibilidade de mercado. E muita gente começou a se aventurar, alguns mais bem sucedidos do que outros. Mas muitos se incomodam quando se fala que a banda soa como Los Hermanos. E a própria crítica criou isso porque usou muitas vezes para denegrir banda... “ah, mais uma bandinha que mistura MPB com indie rock e parece Los Hermanos”.

LG . Eu acho isso um negócio muito triste e muito imaturo de crítica e público no Brasil que é o bom e velho “fez sucesso é ruim”. Porque, sinceramente, o Los Hermanos é uma banda que tem uma trajetória artística impecável. Eu tenho uma impressão muito consistente da obra deles. Os caras desenvolveram um estilo e foram fundo na linguagem. E esse lance da comparação que diminui, eu acho preguiçoso. Tem um monte de coisa palha, mas também tem muita coisa boa que veio nesse filão...

"Foi talvez a primeira banda que conseguiu estabelecer um meio do caminho entre dois universos relativamente opostos que convivem aqui em BH"

O que você gosta de artistas contemporâneos?

LG . Uma banda que deposito uma crença de que pode se tornar bem sucedida na proposta que eles têm é o . E sabe por que eu acho isso? É comunicativo, tem a familiaridade da música pop, mas tem refinamento. E essa é a grande qualidade do Los Hermanos e a grande busca de muitas bandas hoje, mas é difícil de alcançar. Conseguir juntar uma proposta mais densa com uma coisa familiar propositalmente, inclusive com referência explícita como é o caso do Graveola. É isso mesmo: “Desdenha” é uma música com aqueles quatro acordes que estão no Dorival Caymmi e no Gera Samba.

Mas também vejo ecos da chamada Vanguarda Paulista no som de vocês...

LG . Rola sim, claro! Da minha parte pelo menos, é uma memória afetiva muito presente, a voz da Ná, do Tatit... Meu pai curtia muito as doideiras do Itamar. Me traz de volta uma coisa foda da minha infância! No caso da banda foi uma afinidade natural pelo universo estético dessa galera, talvez uma identificação pela estranheza mesmo. E até pelo lance histórico, já tinha uma presença forte dessa reverberação no disco do Kristoff (Pé No Porto), que foi sem dúvida um dos grandes marcos pra canção feita aqui em Minas recentemente e virou pra gente uma referência. Se for olhar o início da banda, acho que esses ecos estavam até mais presentes em algumas coisas, tem o "Chico Buarque de Hollanda Vai à Copa de 2006" que é deliberadamente um plágio de estilo do Rumo, a gente já fez covers do Itamar. Hoje em dia decantou um pouco, mas ainda permanece como item fundamental da dieta, sim.



Sobre a escola mineira... a Ju Perdigão falou que vocês fazem uma ponte entre certa vanguarda erudita () e a galera mais indie. Como é isso?

LG . Isso é uma característica massa do Grave mesmo. Foi talvez a primeira banda que conseguiu estabelecer um meio do caminho entre dois universos relativamente opostos que convivem aqui em BH - um de uma canção mais cabeçuda e camerística, que tem traços mais acadêmicos, e outro das bandas de garagem, do indie rock. A gente começou num circuito mais de teatros, com formação mais acústica, mas com o tempo fomos incorporando elementos mais elétricos no som e na atitude também. Mas como a gente não conseguiu se definir muito bem nesse processo, acabamos organicamente ocupando um lugar intermediário, buscando interlocução com os dois lados. Daí, essa coisa de uma hora dividir o palco com o Kristoff, noutra hora com o , é uma coisa tranquila pra banda, da qual a gente tem orgulho.

"Sou bem mais pelo meio termo, em que tradição não significa prisão e novidade não significa desbunde."

E a relação de vocês com o Clube da Esquina? Você acha que, de alguma forma, dá pra falar em uma linhagem mineira na música popular brasileira?

LG . Acho que, do ponto de vista histórico, a música popular feita em Minas Gerais tem sim algumas peculiaridades estéticas que poderiam levar a pensar num universo de linguagem próprio, numa "linhagem" mesmo. Mas como toda taxionomia, isso acaba não dando conta de uma multiplicidade de outras manifestações. E BH tem uma vocação forte também pra esquisitice, pro experimentalismo underground. Pra entender essa outra faceta da roça obscura belorizontina convém dar uma espreitada nuns nomes: , , , dentre outros. Então, acho uma grande chatice falar de "música mineira", em um sentido prescritivo, normativo. Sou bem mais pelo meio termo, em que tradição não significa prisão e novidade não significa desbunde. E é claro que muita gente pergunta sobre a relação com o Clube da Esquina. Somos fãs e temos noção da grandeza musical que o Clube representa, claro. Mas não temos (nem queremos ter, nem de longe) algum tipo de compromisso histórico de carregar um legado no sentido da criação musical, porque a gente valoriza muito a nossa liberdade e felizmente as nossas influências são muito diversas e abrangem várias outras coisas.

++++

O Graveola se prepara para conquistar outras praças. Nesta terça-feira, 27 de março, começam a turnê de divulgação de seu terceiro disco, Eu Preciso de Um Liquidificador, em São Paulo, no Auditório do SESC Vila Mariana às 20h30, com ingressos esgotados. Depois, seguem para o interior, no SESC São José dos Campos no dia 30. Em abril, eles regressam a capital paulista para shows no SESC Ipiranga (dia 12) e Studio SP (19). Acompanhe as datas da turnê pelo site da banda:

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