Três vezes vagabundo . Bruno Cons e o novo clipe de MV Bill

Diretor e rapper conversam com a Soma sobre o clipe de 'Estilo Vagabundo 3', rodado em São Paulo

POR RUGGERO FIANDANESE
publicado em 09.05.2013 16:23  | última atualização 09.05.2013 18:42

Gravação do clipe do MV Bill POR Fernando Martins Ferreira

Desses não tão poucos personagens que fazem o rap e o hip hop no Brasil seguirem em frente, apesar dos corres e das pedras no caminho, o diretor Bruno Cons fez os desafios técnicos serem apenas detalhes, e desenvolveu uma linguagem cinematográfica própria para captar a rima, o som, a história, a brisa.

Seu trabalho instigou artistas como Kamau e Rashid, que posteriormente o convidaram a participar de projetos e dirigir videoclipes.  Dessa vez, o cidadão instigado foi MV Bill, que lança álbum novo entre maio e junho deste ano. O MC soltou a faixa “Estilo Vagabundo 3” nas mãos de Bruno, que desenvolveu o roteiro, chamou o pessoal do Instinto Coletivo para co-dirigir o vídeo, e trouxe Bill à São Paulo.

A Soma compareceu às gravações do clipe para trocar uma ideia com a galera e sacar como rolou esse encontro, confira a entrevista.

Seu canal do You Tube é constantemente atualizado com webcasts, clipes, vídeos e vários projetos audiovisuais com gente diferente. Como começou tudo isso?

Bruno Cons . É tanta coisa, vou tentar resumir tudo, mas não vou contar todo o filme. Tenho grandes e velhos amigos em Jacareí que sonham como eu, que são o A.X.L e Danilo Major. Então fui para lá de malas feitas, disposto a tudo. A gente se internou e usou um pouco de conhecimento que a gente tinha a nosso favor. Eu havia aprendido a vetorizar por causa da Rua do Flow, então comecei a fazer as camisetas, cds, flyers, até o que não precisava eu fazia.

A gente também produzia os cds do A.X.L e saía na rua vendendo de mão em mão por R$2,00. E no lançamento do CD Quando é Preciso Voltar fizemos a mesma coisa, só que decidimos gravar essa nossa ação na rua. Eu mesmo quis me arriscar e fazer isso, pegamos uma câmera emprestada e dominei ela. Eu fazia aquilo sério, como tudo que eu pego na mão pra trabalhar, procurava os melhores ângulos, ninguém poderia ver aquilo mal feito, sabe? Era a gente, a nossa historia, eu tinha a noção que filmar aquilo era uma responsabilidade enorme, pois tinham artistas que já faziam isso, e novos que podiam se inspirar e vir a fazer.



Pra variar eu mesmo quis aprender a editar. Passou alguns meses decidi comprar uma câmera, isso virou um vício, filmar a música, filmar quem eu acredito, seja videoclipe ou qualquer outra coisa. O clipe é muito importante, mas isso é apenas um detalhe. É como o mano que filma skate, ele tem que saber como remar, ele tem que conhecer o skatista, tem que amar aquilo, tem que suar junto pra poder captar realmente o que precisa ser passado, você tem que saber o que está fazendo. 

Infelizmente nós, seres humanos, dependemos dessa merda que se chama dinheiro: quem tem mais é referência. Meu maior motivo não é ser referência de nada. Eu faço meu corre com a Rua do Flow, isso me levou a outras pessoas, até pra fora do rap. Já trabalhei com pessoas do forró pé de serra, MPB, samba, e falamos a mesma língua. Algum figurão pode vir aqui achando que eu vou falar de conceitos, vídeos e algumas coisas nerds, pode fechar a página que isso aqui sou eu, ainda não está nada bom pra mim e para os meus amigos, verdade, mas fazer o quê? Temos o prazer de deixar isso cada vez mais difícil.

A parceria com o MC Rashid, no clipe da música “R.A.P” começou onde?

Bruno Cons . Começou pelo telefone. Ele me ligou e disse que queria um vídeo feito por mim. foi muito bom, pude conhecer e entender um pouco mais sobre ele. É um ótimo profissional e também como pessoa, que tenho o prazer de trabalhar e manter um contato. Assim como eu, ele também ama o que faz.



E com Instinto Coletivo e MV Bill?

Bruno Cons . Foi foda. O Bill me mandou a música e escrevi um roteiro na mesma hora. Isso é difícil de acontecer comigo, não sou nenhum roteirista, mas rolou uma sintonia da hora.

Em seguida tive a ideia em chamar o Ciro e o Gabriel do Instinto. Chamei para essa parceria, pois sei que por mais que nossas historias sejam diferentes, sinto que estão nessa por motivos semelhantes aos meus.

Tudo no clipe teve mãos de Bruno Cons e Instinto Coletivo, a ideia da parceria era isso, eu não quero ninguém trabalhando feito um robô do meu lado, nem ninguém querendo se aventurar em fazer vídeos de rap. Iriamos fazer um filme! Pena que o Bill não teve muito tempo para gravar, apenas dois dias.

Às 3h da manhã a gente já estava no set, foi muito corrido, mas fizemos de tudo para que o clipe não fosse considerado apenas um web vídeo.



E com o Bruno, Bill?

MV Bill . Conheci o Bruno quando ele tava gravando um vídeo do AXL no qual eu participo e gostei muito do resultado do trabalho. Quando fui distribuir as minhas novas músicas para o vídeo makers, o nome do Bruno foi um dos primeiros a aparecer.

Do que se trata o clipe?

Bruno Cons . Trata-se de uma briga em casal, onde o marido não aguenta mais de angústia por alguma discussão anterior e vai até o bar onde sua namorada trabalha tirar satisfação, totalmente fora de si, não se importando se a namorada poderia perder seu trabalho.

É uma situação que acontece no dia a dia das pessoas. Quando eu morava em Jacareí, no Parque Santo António, tinha um bar do lado de casa e aconteceu algo muito parecido com isso. Mas a situação foi inversa, lá a namorada que foi até o bar quebrar o barraco com o marido.

Por mim o clipe inteiro poderia ser pancadaria! Poderia ter garrafa quebrando na cabeça, sangue, polícia etc. Mas precisaríamos de mais tempo e uma estrutura legal para isso. Não gosto de violência, mas gosto de desafio e de coisas difíceis de fazer nos meus filmes. Dirigir com o Instinto a parte da briga já foi um novo desafio para mim, e com a estrutura que a gente tinha, fiquei feliz com o resultado dessa parte também.


A rapa no set

Instinto Coletivo . Em todos os trabalhos que produzimos nunca estamos plenamente satisfeitos, acho que somos chatos demais (risos), sempre ficamos caçando o que melhorar, inovar. De certa forma isso é bom, pois evoluímos a cada trabalho. Um dos maiores desafios de fazer um clipe é pegar todas as ideias malucas do roteiro, todas as brisas, e transformar em realidade. Nesse caso, tivemos algumas dificuldades: três locações diferentes, a questão da verba (curta) e os problemas de logística e horários, por conta de o Bill ser do Rio e nós de São Paulo. Infelizmente algumas cenas acabaram "caindo" no percurso. Depois veio a correria da finalização também, porque nós sempre queremos mais tempo pra retocar aqui ou ali. Mas quando assistimos à versão final e nos lembramos de todas as dificuldades nos sentimos felizes, porque tudo é aprendizado e é mais um trabalho que nasce.

E o disco, quando saí?

MV Bill . Deve sair no fim de maio, inicio de junho. Mas os clipes já estão sendo lançados.

E o futuro?

Bruno Cons . Eu tento fugir deste pensamento “futuro”, para não ficar louco, mas é impossível. Às vezes eu finjo estar lá no futuro para tentar enxergar o hoje E sei que não estamos nem na metade do que a gente quer, mas aproveito cada momento, pois sei que quando estiver lá no futuro, sentirei saudades do hoje, como já sinto de momentos passados. O tempo passa muito rápido, mano! A evolução vem pra gente de uma forma louca. Em um ano a gente passa por muitas fases diferentes tá ligado? E eu amo isso.

tags:
 mv bill, rashid, Bruno Cons, instinto coletivo, a.x.l., rua do flow

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